Em dia de invasão argentina, RS se divide entre clima de festa e tensão
Argentina e Nigéria se enfrentaram no Beira-Rio nesta quarta-feira.
Segundo a polícia, entre 90 mil e 100 mil vieram a Porto Alegre.
Apesar da tensão e dos incidentes fora do perímetro isolado pela Fifa no Beira-Rio, a esperada invasão argentina a Porto Alegre para o jogo contra a Nigéria teve mais clima de festa do que preocupação. Sem ingresso, mas sempre com o azul e o branco da seleção de Messi, os argentinos transformaram as ruas da capital nesta quarta-feira (25), do estádio à Fan Fest, passando pelo hotel da delegação e pelos locais inusitados em que montaram barracas para dormir.
De acordo com a Brigada Militar, passaram pela cidade de 90 mil a 100 mil turistas da Argentina nesta quarta. O saldo de ocorrências policiais, portanto, pode ser considerado pequeno.
Ao todo, 28 pessoas foram detidas por ocorrências relacionadas ao jogo entre Argentina e Nigéria. Entre eles, estavam 20 argentinos: seis deles por roubo de ingressos, seis por estarem com ingressos ou credenciais falsas, dois por tentarem vender ingressos falsos, um por posse de drogas, um com foguetes e um torcedor que estava na lista dos barras bravas. Mais três argentinos foram detidos por furto depois da partida, em um hotel.
Entre as ocorrências, duas foram mais graves. Na primeira ocorreu, ainda durante a madrugada, um argentino foi baleado após uma discussão em um bar. Ele foi atendido no Hospital de Pronto Socorro e liberado. No fim da manhã, um homem foi cercado, assaltado e agredido por argentinos que tentavam roubar seu ingresso (veja no vídeo ao lado). Na confusão, levaram uma bola com camiseta e boné. Segundo a Secretaria de Segurança, dois argentinos foram presos por furto qualificado.
A avaliação da operação foi positiva por parte do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que veio a Porto Alegre para o jogo. A maioria dos incidentes ocorreu nas imediações do estádio, no chamado Caminho do Gol, que liga o Centro Histórico ao Beira-Rio e na Fan Fest, no Anfiteatro Pôr do Sol, que também fica na mesma região.
O temor de uma possível invasão ao Beira-Rio por causa do grande número de torcedores sem ingresso não se confirmou. Para garantir a segurança dentro do estádio, a Fifa pediu reforço policial. Desde as primeiras horas da manhã, as barreiras a pedestres no chamado perímetro Fifa também foram intensas. Quem estava sem ingresso, era barrado a uma distância de cerca de um quilômetro e meio do estádio.
Para quem tinha ingresso e passou pela barreira policial, a caminhada até o estádio foi tranquila. Milhares de torcedores se concentraram do lado de fora do estádio, em um mar azul. Com camisas e bandeiras da Argentina, vestidos de Papa, com cartazes provocando Pelé e até vestidos de Smurfs, os argentinos fizeram festa fora do estádio, cantaram e torceram muito durante a vitória por 3 a 2 sobre a Nigéria.
Fan Fest teve de instalar telão extra do lado de fora
Com capacidade para 20 mil torcedores, a Fan Fest foi aberta uma hora mais cedo para receber os torcedores. Dentro da festa, a impressão para quem chegasse era de que o evento era realizado em Buenos Aires, tamanha a presença dos estrangeiros. Durante a partida, a lotação se esgotou dentro do espaço.
Um telão foi instalado do lado de fora especialmente para contemplar o grande número de argentinos na cidade. De acordo com o Centro Integrado de Comando da Capital (Ceic), cerca de 37 mil pessoas circularam pelos locais com telão e pela Fan Fest.
Antes da partida, cantaram o hino, dançaram e entoaram gritos de apoio à seleção de Messi. Em meio aos torcedores enlouquecidos, famílias inteiras e crianças pequenas curtiam juntos a vitória.
Antes da partida, cantaram o hino, dançaram e entoaram gritos de apoio à seleção de Messi. Em meio aos torcedores enlouquecidos, famílias inteiras e crianças pequenas curtiam juntos a vitória.
A família Garcia também se reuniu para torcer para a Argentina em solo gaúcho. Avô e neto e a família, de 11 pessoas, vieram de kombi da capital argentina Buenos Aires para estar perto da seleção. Edgardo Garcia conta que o neto Benjamin já é torcedor.
"Ele torce pelo Boca, mas já entende, sim". Sobre a seleção, achou a partida melhor que as anteriores, mas acha difícil ganhar. Mesmo assim, o clima de Copa o contagia. "Tudo muito bonito, emocionante viver isso", reforça Edgardo.
Sem ter onde ficar, argentinos acamparam pela cidade
Além de chegar a Porto Alegre sem ingresso, os turistas do país vizinho também vieram sem ter onde dormir. Eles começaram a se instalar em acampamentos improvisados perto do estádio. Na manhã desta quarta, barracas eram vistas em áreas ao lado de postos de combustíveis nas cercanias do Beira-Rio e terrenos vazios. Os portenhos também se acomodaram em trailers ou nos próprios carros.
Logo depois a partida, o destino dos milhares de argentinos se dividiu entre a Fan Fest, as áreas de acampamento ou os bares do bairro Cidade Baixa, que têm sido destino preferido dos turistas durante a Copa do Mundo em Porto Alegre. No Largo Zumbi dos Palmares, onde outro acampamento improvisado foi montado, um grupo de amigos ficou à vontade até para assar uma tradicional parrilla em um carrinho de supermercado.
Por fazer fronteira com a cidade argentina de Paso de Los Libres, Uruguaiana foi uma das principais portas de entrada no país. Desde o início de junho, quase 37 mil deles entraram no Brasil pelas fronteiras terrestres do Rio Grande do Sul ou pelo Aeroporto Salgado Filho, de acordo com a Polícia Federal.
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